quarta-feira, agosto 10, 2005

Pablo Neruda anda de ônibus

Acho que andar de ônibus não é chato. Chato é caminhar até a parada do ônibus, esperar pelo ônibus, ter que passar por um corredor polonês de velhinhos até chegar à roleta. E, se tu tiver sorte e não deixar o VT cair, o trajeto feito do lado de lá do cobrador sempre pode ser prazeroso, porque o ônibus é um lugar onde teus pensamentos (e o tempo, mesmo que pré-determinado) estão livres: tu pode ler, escutar música, observar as pessoas, ouvir as histórias mais esdrúxulas, bisbilhotar a conversa do vizinho ao celular... Há uma dezena de possibilidades, mas uma das que eu mais gosto é ler os poeminhas colados à janela e ficar pensando sobre eles. Claro que tem uns bem ruins, mas em sua maioria são simples, bonitos e curtos, como que feitos pro passageiro que só anda uma parada e já vai descer. O meu favorito não sei de que ano é, mas já tem bastante tempo que eu copiei num dia de chuva enquanto voltava da faculdade:

"Há outros dias que não têm chegado ainda,
que estão fazendo-se
como o pão ou as cadeiras ou o produto
das farmácias ou das oficinas
- há fábricas de dias que virão -
existem artesãos da alma
que levantam e pesam e preparam
certos dias amargos ou preciosos
que de repente chegam à porta
para premiar-nos com uma laranja
ou assassinar-nos de imediato."
(Pablo Neruda)

Um comentário:

Anônimo disse...

Me lembro de um que era assim: "Não podem ocupar mesmo lugar no espaço: bala, cérebro e cansaço" ... hehehe